MALINCHE





No número 57 da Rua Higuera, em St. Coyoacán, distrito da Cidade do México existe uma imponente casa de pedra, está lá há mais de 500 anos, mas não há sinal, placa, nada que indique quem foram seus moradores, tampouco é um museu; nenhum mexicano passa em frente, e quando algum turista desavisado para admirando-a é logo discretamente guiado para outro caminho. Todos sabem o nome da única mulher que ali morou, mas seu nome não é pronunciado.
Ixkakuk, Malina Tenepal, Malintzin, Malinalli, Dona Marina.Malinche. Ela é conhecida por muitos nomes em vários dialetos, mas com o passar do tempo, seu nome tornou-se associado com a traição
Quando ela nasceu, um oceano e muitos séculos de diferenças culturais a separavam de seu destino.
Os pais eram caciques em uma cidade chamada Paynala, nasceu na etnia nahua.Logo, a mãe viúva casou-se com outro cacique e teve um filho com o novo marido. Para que o bebê tivesse direito à herança, o casal resolveu dar a filha mais velha para os nativos de Xicalango. Assim, ela aprendeu tanto o idioma maia quanto o náuatle, a língua asteca. Essa habilidade com idiomas a tornaria imprescindível nas conquistas espanholas no novo mundo. Alta e forte para sua idade, aprendera ser mais assertiva do que comumente se espera para as mulheres jovens. Ela freqüentou a melhor escola de Tenochtitlán, um privilégio concedido a algumas meninas, e foi educada pela avó, Ciuacoatl. Além de aprender as artes domésticas, ela continuou a leitura e a escrita de pictogramas e estudou oratória e retórica, assim como a medicina das ervas.
Ela, como seus contemporâneos, esperavam a reencarnação do deus Quetzalcoatl, que voltaria para acabar com os sacrifícios humanos praticados pelo imperador asteca Montezuma,como pregava a profecia. Ele chegou na pele de um estrangeiro muito alto, com cabelos e barba vermelhos e olhos claros, chegou pelo mar em embarcações que eles jamais imaginaram, portavam armas de fogo e espadas de material nunca vistos e montavam cavalos, animais desconhecidos e traziam doenças...
Hernán Cortéz antes de desembarcar no México esteve em Cuba com seus soldados. A colonização espanhola em terras americanas teve início nas ilhas do Caribe e das Bahamas. Acreditavam que deveria existir ouro em grande quantidade em todo o continente americano. Assim ele partiu de Cuba e desembarcou no litoral do que hoje é o México, em 1519 com 11 navios e mais de 508 soldados, gripe e varíola. Logo encontrou duas pessoas que lhe seriam muito úteis: Jerônimo Aguilar, um náufrago espanhol,que havia sido prisioneiro dos maias na península de Yucatán e conhecia a língua maia, um dos idiomas falados no Império Asteca.
E Malinche, uma das vinte jovens prisioneiras que foram oferecidas como presente pelo nativos a ele na chegada a Tabasco, uma das várias províncias do Império Asteca. Oferenda de boas vindas ao deus recém chegado
Cortéz teria uma vantagem importante em relação aos astecas, contaria com a ajuda de guias e desses intérpretes, por meio dos quais, obteve muitas informações a respeito da situação do Império Asteca.
Batizada como Marina, Doña Marina, rapidamente aprendeu o castelhano e se tornou guia conselheira, tradutora, intérprete e amante de Cortéz, pois ele era casado, chegando a ter um filho dele, reconhecido pelo espanhol e batizado como Martín Cortéz. Os astecas se referiam como Malinche, ao próprio Cortéz. Malinche se traduz como "O capitão de Marina", sendo a própria Marina chamada "La Malinche", a mulher do capitão.
Hábil para aprender idiomas e para negociações entre culturas diversas ajudou os espanhóis na tentativa de estabelecer relações amigáveis com o império Asteca e a conquistar aliados entre povos indígenas tributados por Montezuma.
Após a conquista do império asteca, Cortéz, por ser casado na Espanha, arranjou para Malinche um casamento com um castelhano, Don Juan Xamarillo. O filho de Malinche seria o primeiro "mexicano", o primeiro mestiço, amálgama de duas civilizações. Exerceu uma posição elevada no governo. Em 1548, acusado de conspiração contra o Vice Rei, foi torturado e executado. Malinche também teve uma filha, D. Maria, com seu marido espanhol. Como mãe de dois filhos mestiços Marina poderia ser considerada a mãe da nação mexicana, a Eva americana.
Seu nome no México moderno é um insulto. Para os mexicanos ser chamado de malinchista é ser chamado de amante dos estrangeiros, um traidor.
Ela não escolhera seu nome nem seu destino.